quarta-feira, 23 de abril de 2008

[On]
Arredores de Juno, quadrante desconhecido.
07:23 AM.

Ifaro apareceu aqui hoje. Depois de dias e dias sem vir me procurar, ele apareceu, o que prova que quem é vivo sempre aparece. Gentil como de costume. Me criticou até o fundo da alma e me chamou de covarde por não agir logo. Também riu de mim por minhas ações em Morroc. Dormi naquela escuridão que ele sempre provoca, com as tentações dele ecoando em meus ouvidos.

Mas de tudo que ele falou, a notícia que mais me chocou foi a que eu no fundo já sabia, só me recusava a acreditar: vou ter um filho.

De repente, tudo ficou claro pra mim. O mal estar, os enjôos, a falta ou o exagero de apetite nas piores horas possíveis. Minha menstruação também não tinha aparecido nesse mês. Deus, com fui demorar tanto pra reparar?

Os pensamentos estão completamente perdidos em minha mente agora. Talvez essa seja a chance que eu tanto pedi: uma família, um marido e um filho, uma vida nova, longe de Morroc, de Akahai, de toda essa gente, dessa guerra maluca em que vim me meter... só nós três, e mais nada atrapalhando...

Porém, é exatamente isso que me preocupa. Em que mundo será que meu bebezinho vai nascer? Será que ele terá direito a viver como todos os outros, será que ele só ficará por ser filho de uma Cultista? Ou será que ele nem mesmo terá essa oportunidade? Meu Deus, como vou viver desse jeito? Um filho...

Posso ter sacrificado muitas coisas até agora, mas ele não é uma das que está na minha lista de sacrifícios recentes. A notícia poderia ter chegado a mim de uma maneira muito melhor, mas não tem importância. Saber disso foi uma das melhores coisas que já me aconteceram, e não vou abdicar dessa minha felicidade, por mais curta que seja. Meu filho vai nascer, e viverá feliz.

Nem que eu tenha que morrer pra isso.


Arredores de Morroc, quadrante 03.
14:16 AM.

Ryan me deixou com uma coisa pra pensar ao sair de casa esta manhã: quer que eu vá na minha primeira missão como agente dele. Disse que vai me preparar para um confronto direito com Akahai e sua trupe, e que eu posso matar quantos e quem eu quiser. Estou um pouco hesitante com relação a essa missão: alguma coisa dentro de mim me diz que tem algo a mais aí...

Roberuto disse que não há motivo pra ficar assim, pois se eu precisar ele estará pronto para intervir no que quer que seja. Mesmo assim, não consigo... morro de medo que a Milícia faça algo de mal a ele. Sei que ele sabe dar seus pulos, mas somos só eu e ele contra Akahai e mais uma pá de gente... fora os amigos e aliados espalhados por aí.

A cada dia que passa minha situação se complica mais... mais problemas, mais inimigos e agora um filho pra cuidar. Ainda estou um pouco preocupada com essa coisa toda de estar grávida. Me pergunto o que vai acontecer daqui pra frente...

Mesmo assim, estou contente... saber dessa criança me trouxe novas esperanças. Contei a Roberuto não faz muito tempo, e ele também ficou radiante. Estávamos deitados como sempre, e contei da forma mais natural que consegui achar. Ele parou por um minuto, encarando o teto, depois me perguntou mais umas dez vezes se eu tinha certeza, se não era engano, se ele tinha ouvido direito. E quando finalmente ele caiu em si, disse bem baixinho: “Um filho... meu filho...”, com o sorriso mais lindo e sincero que eu já vi.

Todos reclamam tanto de mercenários, porque eles são insensíveis e matam as pessoas e tudo o mais. Mas eu tenho orgulho de dizer que só eu conheço o sorriso que meu marido deu naquela hora. Me sinto tão bem agora... quero logo que essa criança nasça e traga alegria pra todos nós. E que possamos ser uma família normal e feliz...

Espero sinceramente que isso se realize.


Farol de Faros.
[Um dia depois]
2:12 AM.


[On]

Definitivamente, nunca estive tão confusa quanto hoje. Aconteceu tanta coisa... minha cabeça está latejando, meu corpo está meio dolorido, não sei bem porque, e esse enjôo não me deixa... acho que essa semana teve uma carga muito exaustiva. Até demais...

Pra começar, fui capturada há exatamente uma semana atrás. O ataque à Milícia falhou, por alguma razão que não entendo direito. A magia que Ryan jogou em mim se dissipou, e todos puderam me atacar livremente. O resultado foi que Akahai, Ryu, Voormas, Falcon e ainda por cima Kieru me cercaram e me derrubaram em dois tempos.

Quando acordei de novo, já estava na cela do calabouço, com Pablar e a tal da Rachiele me olhando como se eu fosse um bicho. Ele bem que tentou me ajudar, mas não podia simplesmente deixar ele se aproximar assim. Só aceitei os remédios que ele me passou porque Akahai me deixou com um corte enorme na coxa, e eu acho que morreria se não desse um jeito naquilo.

Poucos minutos depois o próprio Akahai chegou, dispensando a todos e começando imediatamente a sua sessão de tortura. Socos, chutes, cortes e hematomas... e mais dois ou três cortes nas coxas. Quando ele finalmente saiu, eu estava completamente tonta, quase desmaiando. Não sei como não morri nas mãos dele... ou talvez saiba.

No outro dia, mais tortura, mais dor e mais discussão. Ele descobrira de alguma maneira que eu estou grávida, e prometera que não ia machucar a criança. Mas em compensação, acho que ele socou cada parte do meu corpo que não estava relacionada com a gestação...

A estadia era uma tortura em si. Não conseguia dormir de jeito nenhum, tanto pela insônia quando pela dor, e passava a noite tremendo de frio, ouvindo Ifaro gritar comigo, tentando dar um jeito nos ferimentos e rezando. Acho que nunca me arrependi tanto de ter me aliado a Ryan Moore.

No fim, tudo que o demônio dizia era verdade; fui tola em acreditar nele. Aquele carinho e conforto que ele me passava no fundo não era nada, e na minha primeira falha ele simplesmente deixou pra lá. Como era de se esperar dele... não devia ter baixado a minha guarda. Entrei no culto já sabendo que ele não era lá flor que se cheire, e fui justamente confiar nele. Droga...

Akahai estava comigo em tempo integral, dormia na frente da cela e comia junto comigo quando os guardas traziam as refeições. O medo de que eu fugisse era tão grande que ele chegou a transferir todos os outros presos para outras alas, para que eu não tivesse contato com mais ninguém a não ser ele.

Claro que a comida dele era diferente da minha... ele adorava usar isso pra me chantagear. A primeira coisa que ele reparou foi que eu poderia recusar qualquer coisa dele, menos a comida. Sempre que ele me entregava o prato, eu comia muito rápido, como se ele pudesse puxar de novo a qualquer momento. Cheguei até a me sentir constrangida depois. E parecia que eu estava sempre com fome... depois de um tempo pensando sobre isso (tinha bastante tempo pra pensar ali), conclui que isso era coisa da gravidez.

Tive sérios problemas quando ele finalmente descobriu a tatuagem. Em uma das sessões de tortura, ele me jogou no chão, e como a manga do meu casaco estava rasgada, ele notou a ponta do desenho pra fora, e não perdeu tempo. Rasgou o resto da roupa e perguntou o que significava cada coisa, usando a ponta da espada pra me “convencer” a falar. Dei um monte de explicações tortas, inventei coisas... que o convenceram completamente. É fácil de fazer uma pessoa acreditar no que ela quer acreditar. Akahai está cego devido ao ódio por Moore, e usei isso a meu favor... entretanto, essa foi uma das noites mais frias, e sem o casaco achei que ia morrer. Ifaro veio me atentar, acho que entrei em desespero... não me lembro bem, nem tenho certeza se Shora viu. Só sei que lá pelo raiar da manhã (deduzo eu), estava deitada no chão, me abraçando e cantando uma música que ouvi há muito tempo atrás. Nossa, acho que eles dois devem ter rido tanto da cena...

A semana se arrastou dessa mesma maneira. Sabia que era de manhã graças ao enjôo. Lá pelas 7 chegava o café, eu comia e ficava esperando o almoço. Vinha o almoço, eu ficava esperando o jantar. Eu comia novamente, e ficava esperando o frio ou o enjôo, o que viesse primeiro. Tudo isso pontuado pela ira de lorde Shora. De vez em quando, fazia curativos. E assim os dias iam se arrastando...

Quando foi hoje, Akahai finalmente deixou o posto, deixando três sentinelas de guarda. Calculei que era hora da reunião da Milícia, e que provavelmente ele voltaria com todos os outros membros pra mais uma sessão de tortura. Mas na verdade, não estava sequer com forças pra reagir; a fome e os curativos malfeitos tinham me enfraquecido muito, e eu acho que naquelas condições morreria até mesmo confrontando Piedoroshi desarmado e sem usar magias. Tanto é que quando todos chegaram, eu estava simplesmente sentada, pensando: “Bem, adeus, mundo cruel... adeus Lil, desculpe se não fui útil....”.

Minha primeira surpresa foi que Piedoroshi estava com uma capa de bruxo. Lilium deve ter ficado muito orgulhosa quando soube... deve ter sido a única alegria dela em semanas. Ela parecia tão triste no dia do ataque à Morroc... Rachiele estava lá também, representando a Equilibrium. Eles devem ter um interesse particular nisso, já que querem impedir o Ragnarok... também estavam lá Ryu Baterson, Pablar, Lupusferocius (que estava de prontidão pro caso de eu morrer), e três pessoas que eu não conhecia: uma arqueira, um espadachim e um espiritualista, do qual já ouvi falar vagamente.

Akahai fez questão de entrar na cela e reiniciar a tortura sem rodeios, provavelmente pra demonstrar a todos o que aconteceria com traidores de agora em diante. Ele me puxou, me socou, chutou, bateu meu rosto contra as grades... nada de novo. Porém, por alguma razão, aquilo doía mais do que o normal... acho que tudo aquilo tinha me deixado fragilizada. Finalmente, Akahai cravou a espada em minha coxa, enquanto o Bispo curava o ferimento. Sentir a pele se curando e abrindo de novo doeu mais do que qualquer coisa que ele já tinha feito antes. Quase cedi naquele momento...

Minha sorte foi que Pietro interferiu, dizendo que aquilo era crueldade demais, e Rachiele e Pablar o apoiaram. Akahai cedeu, mas não por pena; ele retirou a espada simplesmente pra voltar a me golpear, dessa vez bem no meio do peito. E pensei imediatamente: “Vou morrer...”.

Porém, quando abri os olhos de novo, estava longe da masmorra do Castelo De Morroc; estava deitada num chão de pedra, com o uniforme de arruaceira completo e intacto, e o corpo completamente curado e sem dor... a Milícia estava ali, e assim que me viram começaram a me questionar sobre onde estavam e o que tinha acontecido. Ignorei, tentando me concentrar pra lembrar de tudo...

Foi nessa hora que todos começaram a ver vozes e ilusões, e entendi imediatamente o que estava se passando. Ryan havia nos teleportado para o Mundo dos Pesadelos... a princípio fiquei com medo, mas ao ver que nada dali estava me afetando, conclui que Ryan estava querendo prejudicar apenas a Milícia. Mesmo assim, nada se encaixava... apenas fui seguindo com eles, sem saber direito o que fazer. Akahai estava com medo, algo que eu nunca tinha visto antes... por um instante cheguei até a me perguntar se ele teria feito tudo aquilo comigo se soubesse que iria parar ali.

A cada passo que dava, ouvia Ifaro sussurrando em meus ouvidos, e uma dor de cabeça começava a me atingir. Mas só entrei em desespero mesmo quando chegamos a um lago, e Pablar insistia em me jogar na água, dizendo que aquilo tinha o segredo pra nos tirar dali. Cruzamos a ponte, e ele me ameaçou mais uma vez. Foi quando o medo me dominou e eu acordei...

Foi estranho. Era como se eu estivesse caindo dentro do nada... e quando pisquei novamente, estava deitada, encarando o teto polido da casa de Ryan. Passei alguns minutos pra me recompor do choque. Então, ele me explicou: eu nunca fui capturada... desde que ele me colocou na missão, não era eu: eu estava deitada confortavelmente em minha cama, dormindo...

Ryan usou magia para moldar um cadáver, deixando-o com minha aparência. Com todos os detalhes perfeitos... até a cicatriz e a tatuagem nas costas. Depois, usou a mesma magia para conectar o cadáver à minha mente... assim, eu controlaria psiquicamente o cadáver, achando que estava mesmo vivenciando tudo. Por isso, quando acordei meu corpo estava intacto, assim como o que apareceu no Mundo dos Pesadelos... porque aquele era meu verdadeiro eu, não o cadáver.

Toda a tortura, a dor, o medo, nada disso era real... era mais uma das ilusões de Ryan. Então, quem sou eu? O que aconteceu de verdade? O que aconteceu com meu corpo esse tempo todo? E meu filho? Será que ele está bem? Será que está tudo bem mesmo?...

Mas não é só isso. Ryan fez um ritual assim que eu acordei, e trouxe Volt Elétron de volta à vida...

Nesse momento estou na torre mais alta do Farol, escondida. O sol já se pôs há muito tempo, mas isso não tem importância... só quero ficar aqui por um tempo. A brisa marinha está tão gostosa hoje... não sinto fome, nem sono. Poderia ficar aqui pelo tempo que quisesse, talvez até passe a noite aqui... Moore me deu permissão pra ficar fora uns dias, pelo tempo que eu quiser, desde que venha assim que ele chamar. Acho que não precisa mais de mim agora que tem a Volt de novo... e eu sinceramente não vou reclamar disso. Preciso de um tempo longe...

Assim que sair daqui vou pra Payon, pra casa de Roberuto. Vou abraçá-lo e beijá-lo, comer alguma coisa bem gostosa, passar a noite com ele e dormir tranqüila, acordar na manhã seguinte sem medo, sem preocupação alguma... talvez até chame a Kyrie pra dar uma olhada na criança.

Ou pelo menos eu queria que fosse assim.

Minha dor de cabeça não passa, meu peito está tão apertado que parece que vai explodir... acho que se pudesse desligar meus pensamentos, já teria feito há muito tempo. Não sei mais o que faço. Seguir Ryan Moore se torna a cada dia mais perigoso, mais desgastante... não consigo esquecer absolutamente nada. O medo e a fúria que me dominaram quando tive os poderes de Morroc em minhas mãos. Todo o sofrimento que Akahai me fez passar. As noites de frio, fome e terror no cárcere. O medo de perder a criança...

Já não sei mais se sigo minha razão ou meu coração. E acho que nunca senti tanto medo na vida como hoje... quero ir pra algum lugar onde eu possa me esconder, ficar deitada ali chorando que nem uma criança como agora... algum lugar onde não haja ninguém pra me culpar; onde eu possa ficar em paz.

Vai ficar tudo bem... não há com o que se preocupar... tudo vai se resolver, e você será coberta de gratidão eterna. Você será a mais prestigiada, a melhor de todas... todos irão ser eternamente gratos... e aí ninguém poderá deixar você de lado... nem ela, nem ninguém... ela vai te perdoar, e vai voltar a te amar...

E só fui notar uma coisa agora, depois de ter saído da prisão faz um bom tempo: hoje é meu aniversário.

Bon anniversaire, petit Lenna. Tu as 22 ans maintenant... j’épere que ton fille tiendra la même chance.

Ne pleure pas...

[Off]

Ufa! Postzinho loooooooongo esse, né? Mesmo assim, foi ótimo escrevê-lo xDD Eu escrevi o primeiro em separado, depois reaproveitei um rascunhinho que tinha feito pra fazer o primeiro, dela falando e talz. E saiu isso aí! ^_^

Acho que uma das cenas mais depressivas que já escrevi da Lenna foi essa. E eu também não tava lá muito legal no dia... ainda por cima, bem na hora em que eu ia descrever como ela se sente, começou a tocar a música que a Sakura canta no Tsubasa (You Are My Love, dá pra baixar no gendou, é só se registrar pra poder baixar, e talz). Foi TRISTE.

Falando em tristeza, tive uns problemas em casa, muita confusão mesmo .-. passei uma semana horrível. Tava com os textos prontos, mas nem postei, não tava com cabeça (mesmo porque, no dia em que sentei aqui no 1A0 pra postar, peguei justamente um mouse daqueles que a setinha fica teleportando na tela, aí já perdi a paciência). Ainda tinha mais coisa pra colocar aqui; vou aproveitar o tempo livre hoje de madrugada (LOL), pra tentar escrever a cena seguinte, de quando a Kyrie e o Robby vão visitá-los e dão uma idéia irrecusável... ou quase xD

No mais, é isso ^^ Esses dias agora eu já tô bem melhor, resolvi (quase) tudo que tava me atormentando, e ando num astral muito bom... e descobri que eu tenho uns amigos muito danados o_o Ru que o diga >DD Sinceramente, o que ele fez pra tentar me ajudar, cara... coisa de louco /o/

Ando só com um pouco de saudade do resto do pessoal... inclusive do povo que eu só falo na internet. Ando sem tempo pra acessar o forum .-. No fim, nesse tempo que vou ficar longe (pra poder me reorganizar, e tudo), acho que a única coisa que ainda vai me sobrar com relação a role-plays é esse blog xD Mas tudo bem.

Isso é tudo, acho... e prometo que da próxima vez tento postar mais cedo =x

Mon. o/

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