[ON]
Farol de Faros.
[3 dias antes do ataque à Akahai Shora.]
Hora desconhecida.
Três dias depois de nosso casamento, Roberuto e eu saímos de viagem, da velha cabana em Payon, em direção ao Farol pra resolver um assunto. Era pra estarmos em lua-de-mel , mas parece que só o fato de termos passado 3 dias em perfeita paz e tranqüilidade na cabana já tinha sido uma dádiva. Foi tudo perfeito, vivíamos namorando e dormindo e só levantávamos pra comer alguma coisa rápida ou tomar banho juntos.
E então, antes mesmo de nos considerarmos marido e mulher, já estávamos com o pé na estrada de novo. O mais estranho foi que ele não deu nem um pio sobre tudo aquilo; apenas expliquei o que queria fazer e ele disse que vinha junto. Agradeço muito ao apoio dele. Sinceramente, sem ele não sei o que faria...
Chegamos ao Farol. Estava mais deserto do que o normal; dei um pulo rápido na guilda (Rô teve que ficar do lado de fora, pra não gerar uma nova guerra entre mercenários e arruaceiros) para pegar o salário do mês pelas missões, e Marky me falou por alto que estava tendo uma grande quantidade de assaltos às embarcações, e que eles não estavam dando conta de vigiar o porto.
Pela maneira que ela falou, era uma missão, e com certeza pagaria bem; mas não dei muita importância. A coisa que tinha que fazer era bem mais importante que aquilo, e eu não estava a fim de perder tempo. Sondei mais algumas informações de que precisava, guardei meu dinheiro muito bem guardado e pegamos a estrada novamente.
Já estávamos andando há umas duas horas quando finalmente demos de cara com a casa. Não havia como não reconhecer, já tinha ido ali milhares de vezes, e agradeci por não terem se mudado. O problema é que estava muito diferente do que eu lembrava. Tanto que se não fosse a dica dos arruaceiros, talvez não tivesse reconhecido. Aliás, diferente é pouco: o lugar parecia ter sido arrasado por umas 300 tempestades de areia.
Era uma cabana bem simples: um andar só, pequena, toda de madeira com o teto de palha. A areia tinha tomado conta de boa parte da frente, tapando parte do chão da entrada. As janelas estavam lacradas, e uma tela tentava evitar que a terra invadisse ainda mais.
Roberuto fez questão de deixar bem claro que não gostava dali.
- É, eu sei que é meio horrivelzinho, mas estamos no lugar certo, sim. – disse pra ele. – Não tem como errar. Só não pensei que aquele moleque pudesse deixar isso daqui assim...
Dei um passo à frente e bati. A princípio, nenhuma reação, mas quando ia bater de novo passos soaram do lado de dentro.
- Argh, que é? Marky, se for você de novo atrás daquela adag...
Então a porta se abriu. Na soleira, apareceu um rapaz alto e magricela. Tinha um lado dos cabelos roxos curtos e meio espetados, enquanto o outro era mais comprido e estava preso com um pedaço de pano fino, arrancado de algum lugar. Os olhos castanho-claros dele bateram direto com os meus.
- Olá, Finn. – disse.
- Len... – ele deu um pulinho pra trás e quase caiu no chão. – Lenna! Que surpresa! Eu... não esperava você por aqui tão cedo...
Ele foi recuando, preocupado. Senti Roberuto preparar a guarda para o caso de correr atrás do moleque. Apenas estendi a mão à altura do peito dele.
- O que foi, fedelho? Está assustado em me ver? – fui andando pra cima dele, invadindo a sala da casa. – Será que tem alguma coisa te incomodando?
- Bem... é que... sabe como é, depois que você entrou pra Milícia... não, não me entenda mal, não é que tenha algo errado por aqui, mas... er, ahn...
- Fica frio, Finn. – uma outra voz, mais autoritária, soou de dentro de uma porta. – Ela não está em serviço. Veio atrás de um favor.
Um rapaz magro, com braços fortes, se encostou no batente do outro lado. Usava uma calça do uniforme de arruaceiro, e estava sem camisa. Os cabelos azuis compridos estavam presos por um rabo-de-cavalo meio folgado na nuca. Seus braços eram completamente tomados por cicatrizes e tatuagens. Também havia desenhos, em menos quantidade, estampados no peito. Tragava um cigarro tranqüilamente.
- Mas, senhor...
- Cala a boca, já mandei. Agora, passa pra cozinha e vai separar o jantar, vai!
Finn levantou-se, agoniado, e entrou pela porta o mais rápido que pôde. O homem se desencostou e veio até mim.
- Terphes. – cumprimentei. Ele acenou com a cabeça retribuindo. Em seguida, apontou para Roberuto com o queixo.
- E o mercenário aí? Espero que não cause problemas pra nós.
Roberuto, contra a luz do sol, apertou o olhar em uma menção de atacar, mas entrei na frente dele com o corpo sem tirar os olhos de Terphes.
- Eu nunca lhe trouxe problemas, você sabe disso. E não vou começar agora que preciso de você.
Ele concordou com a cabeça.
- É, tem razão. E falando em trazer...
Desamarrei um saco de pano que trazia preso à cintura e joguei em cima da mesa mais próxima. Ele abriu-o, deu uma examinada minuciosa, e voltou a me olhar.
- Trato é trato. Conheço as regras. – respondi.
- Se conhece... – e assoviou, olhando o conteúdo. – Primeira qualidade. Sinceramente, gatinha, não sei onde você consegue essas coisas...
Senti meu marido fumegar ao ouvir o “gatinha”, mas não disse nada. Não era hora de comprar briga.
- E então, podemos começar? – suspirei.
- Agora mesmo. Finn!
O rapaz entrou apressado, trazendo uma colher suja na mão. Encarou o chefe, perplexo.
- S... Sim, senhor?
- Cancele o almoço por enquanto. Prepare o escritório. E a dosagem terá de ser dobrada, senão não fará efeito. Entendeu?
O garoto acenou afirmativamente e voltou para o cômodo. Alguns minutos depois, veio chamar.
- Tudo pronto, senhor.
- Ótimo. Volte pra cozinha e termine tudo. Vocês – ele se virou pra mim, - venham comigo.
Ele entrou, e Roberuto foi logo atrás. Seguimos por um corredor onde havia uma porta fechada e outra aberta, que dava pra cozinha, até uma escada de pedra. Descemos alguns lances, até chegar em uma sala pequena no subterrâneo da casa. Não havia muita coisa lá, só um banquinho, uma maca com amarras e várias posições de ajustes, uma mesa com apetrechos e um sofá ao canto.
- Então, finalmente resolveu meter a cara. Seu medo de passar em branco é tão grande assim, Lenna? – Terphes me acompanhou até a maca, onde me encostei, e fez um gesto para que Roberuto se sentasse no sofá. Ele nem se mexeu.
- Digamos que precise disso pra me lembrar de quem eu sou de verdade. – resmunguei, séria. – Pra não me perder no meio de tantas mentiras.
- Entendo... – o rapaz soltou um rápido suspiro, olhando de relance pro mercenário, e depois voltando-se pra mim, pegando um pozinho de um frasco. Tirou um pouco com uma colher de medida quase cheia e dissolveu em um copo pequeno de água. – Vai ser lá mesmo? Logo sua primeira?
Acenei com a cabeça. Rô ficava cada vez mais desconfiado. Terphes jogou mais uma colher cheia, mexeu, derramou o líquido em um lenço dobrado e me olhou.
- Bem, então podemos começar.
Em um movimento brusco, ele esfregou o pano no meu nariz, e imediatamente senti meu corpo perdendo as forças. Caí de joelhos no chão, ao mesmo tempo em que a lâmina da katar ia roçando o pescoço dele.
- Não, Rô... – sussurrei, fraca. Tentei agarrá-lo, mas meus braços estavam pesados. – Está tudo bem... é assim mesmo... sedativo...
Ele não se convenceu, porém. Agarrou o arruaceiro e aproximou um pouco mais a katar da pele.
- Explique-se.
- Isso é o procedimento normal, cara. Relaxe, não quero matar sua namoradinha. É só pra fazer com que ela não sofra mais do que deve.
- Ah, é? – seu tom de voz era feroz, porém controlado. – E como posso saber que você não a envenenou? Acho bom dar uma explicação bem convincente...
- Confie nele, Rô. – falei de novo. – Paguei o preço que ele pediu, até a mais. Nesse caso, ele não tem motivos pra me matar.
O mercenário ainda me encarou com olhar de desconfiança. Terphes voltou a falar.
- Escuta só, cara, isso é só um sedativo comum, pra dopar ela. Se eu não fizer isso vai doer bem mais. Pode examinar, se quiser, mas não pegue pra você. – e entregou o vidro aberto na mão de Roberuto, que o cheirou. - Na verdade, apesar de eu ter dado uma dosagem bem potente, ela ainda tá acordada. Se fosse veneno já tinha feito o efeito que tinha que fazer. Agora, será que pode me dar uma mão pra levantar ela? Osso e peito também pesa...
Nunca vi Rô olhar tão irritado pra alguém em toda a minha vida. Mesmo assim, ele se abaixou e ajudou o arruaceiro a me colocar de bruços na maca. Terphes sentou no banquinho e me encarou.
- E então, como se sente?
- Não consigo me mexer direito... – disse.
- Sente alguma coisa? – ele foi apertando o meu braço com os dedos, depois cravando as unhas na pele.
- Perfeitamente. – ele largou meu braço imediatamente. - Acho que seu anestésico não é muito bom...
- Não é bom pra envenenados em geral. – riu-se, virando pra bancada e preparando materiais. – Duvido que uma pessoa normal não se renda só de tragar um tiquinho disso aqui.
Terphes continuou preparando seus instrumentos de trabalho, concentrado. Então se virou, com uma caneta preta na mão.
- Tá, vamo lá... consegue soltar a roupa?
Me ergui com um pouco de dificuldade e fui soltando os fios da frente do casaco. Rô me carregou pelos ombros, pra que não tivesse que levantar da maca nem fazer esforço, e quando terminei tratou de puxar pra baixo o casaco vermelho, deixando uma parte da minha costa à mostra.
- Beleza. – o arruaceiro se aproximou de novo, concentrado. Destampou a caneta. Deitei de novo na maca, com o rosto virado pro outro lado. – Vou marcar tudo aqui. Quando terminar, vamos meter bala. Pronta?
- Ande logo com isso. – resmunguei.
Ele afastou meus cabelos e começou a esfregar a ponta da caneta na minha costa, desenhando cuidadosamente o que eu tinha pedido pra ele fazer. Roberuto se encostou na parede, olhando atento pra mim. Seu humor ainda estava intragável. Eu apenas fechei os olhos, tentando ficar quieta.
- Santa ironia... – murmurou Terphes depois de algum tempo. – Deve gostar muito de trabalhar pra Milícia, Lenna. Tatuar logo isso nas costas...
- Todo mundo precisa de um guia, Terphes. – respondi, sem paciência. – Alguma coisa que os faça lembrar de seu rumo. Eu só quero algo pra olhar e dizer “eu sei muito bem quem eu sou, e o que quero aqui”. Algo pra me lembrar das coisas que não devo nunca esquecer.
- Sei, sei... – ele parou alguns segundos, puxando o fumo. Apoiou o cigarro no cinzeiro, então voltou a desenhar, olhando um esquema em sua mesa. De repente, parou. – E isso aqui embaixo, o que é? Tuoj... Tourju... Turj...
- Toujours, criatura. É uma língua do norte. Francês. Dizem que se chama assim porque quem criou foi um homem chamado Henry France.
- E você sabe falar isso? Achei que só soubesse roubar e matar...
- Acha que nasci roubando e matando, idiota? – falei num tom de voz bem irritado. – Já tive passado uma vez. Ah, e não vá escrever errado. Ai de você se me errar.
- Ah, não se preocupe, pelo seu preço não vou cometer nem um errinho sequer. – ele sorriu, debochado, finalmente tirando a caneta da minha pele. Puxou mais uma vez o cigarro e deu uma olhada em seu trabalho. – Bem, a primeira parte já terminei. Devo continuar ou vai querer namorar no intervalo? Posso ir jantar enquanto vocês matam a saudade, dão uma rapidinha...
- Mais uma gracinha dessas e não vai jantar nunca mais, Terphes. – sussurrei. – Sabe como é, acho que lá em Nifflhein não tem comida...
Ele suspirou, apagando o toco de cigarro na mesa. Então, pegou um instrumento e ligou. Imediatamente um zumbido meio baixo encheu a sala.
- Vou começar. O problema é que seu corpo é muito resistente, acho que você não cai nem pra tranqüilizante de Bafomé. Por causa disso a anestesia também não faz efeito, então você vai ter que agüentar. E eu acho bom não ouvir choramingo por aqui.
- Pare de drama e acabe logo de uma vez.
- Ah, relaxa, vai ser rápido, sim. É pequena, não deve demorar nadinha. Depois é só contornar tudo e fazer o acabamento e a higienização. Agora...
O barulho foi se aproximando cada vez mais dos meus ouvidos. Fechei os olhos. Uma dor estranha, nem forte nem fraca, me atingiu. Mesmo assim, era agoniante.
- Isso dói... – reclamei.
- Cale a boca. – Terphes apenas continuou talhando.
Senti o bisturi ir cortando minha pele aos poucos, subindo e descendo, tracejando cada pontinho detalhadamente. Tive vontade de reclamar, mas prometi a mim mesma que não ia fazer isso. Roberuto me olhava atento da parede, os braços cruzados, com a mesma expressão séria de sempre, mas senti que ele estava um pouco preocupado. Dei um sorriso forçado a ele, e suas pupilas se apertaram um pouco.
- Relaxe, querido. Agüentei você me batendo, também agüento um nadinha desses.
Ouviu uma risadinha vinda do tatuador. Depois de um tempo que pra mim pareceram horas, com aquela mini navalha entrando e saindo das minhas costas, o ruído cessou. Aliviada, fiz menção de levantar, mas uma mão me deteve.
- Fique. Ainda tenho que higienizar. Vou fechar pra não sair a tinta e evitar que te dê alguma infecção maluca.
Ele voltou a mexer na mesinha. Começou a esfregar um pedaço de algodão umedecido no local, que estava extra sensível.
- O que está passando nela? – perguntou Roberuto imediatamente. Terphes não se deu nem ao trabalho de levantar o rosto.
- É só uma poção vermelha diluída. Vai fazer com que cicatrize e fique limpo.
- Porque não pode ser uma poção pura? – ele foi se aproximando.
- Porque a poção pura iria fechar a pele, e não é isso que queremos. Se fechar, a tinta é absorvida por completo e todo esse tempo que passei aqui trabalhando vai pelo ralo. – o algodão foi descendo, esfregando uma área seca.
Roberuto parou do meu lado e observou o trabalho. O arruaceiro parou minutos depois, esfregando uma toalha seca em toda a costa e levantando.
- Vou acender um cigarro lá fora. – apontou, já tirando o cigarro de trás da orelha. – Descanse. Depois eu desço pra pregar o curativo. Não demorem muito aí.
E saiu.
- E então, gostou? – sorri pra Roberuto, enquanto os passos na escada iam se afastando. – Ficou boa?
- Eu só espero que você tome banho vestida enquanto estiver com aqueles cultistas lunáticos. Se algum deles vir isso em você...
- Mesmo que me façam tirar a roupa, o cabelo esconde. Ninguém vai saber que essa tatuagem existe. – bocejei. – Só eu tenho direito de vê-la. E vai ser bom tê-la comigo. Vai ser nosso segredo.
Ele passou a mão na minha cabeça e me deu um beijo na orelha. Então, sentou na beirada da maca, fazendo cafuné.
- Tome cuidado lá, Lenna...
Dormi.
[OFF]
Ando lotada de trabalho na faculdade x_x Sinto falta do tempo em que eu deixava tudo pra cima da hora e me safava tranquilamente... chegou minha primeira nota: 2,25 na prova 1-1 do Moscoso (Eletrônica). A sorte é que na 1-2 já tenho 6,5 garantido por ter feito o exercício. Agora falta ver o resto... parece que tem uma lista de exercícios pra entregar amanhã de Cálculo, e eu não sei nem por onde começar. Espero que eu consiga matar isso amanhã com a Lene! xD
Vou tomar um danone e continuar Rpeando com o Aka no Msn. Isso tá ficando cada vez mais divertido /o/
Boa noite a todos (?) o/
Mon. :3
segunda-feira, 10 de março de 2008
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